Monumento aos Heróis Anónimos da Biblioteca Cosmos



A exposição COSMO/POLÍTICA#6 centrou-se no legado da Biblioteca COSMOS, uma empreitada editorial exemplar: em sete anos (1941-1948), e no contexto desfavorável da II G.M. e do Estado Novo, publicam-se 106 títulos em 145 volumes sobre temas da cultura geral, a preços acessíveis. A colecção representa a genuína ambição de produzir e disseminar conhecimento entre os cidadãos, de democratizar o saber, onde cada livro é uma sala de aula, e cada leitor um potencial estudante sem mestre nem escola. A Biblioteca era composta por 7 séries: Ciências e Técnicas, Artes e Letras, Filosofia e Religião, Povos e Civilização, Biografias, Epopeias Humanas, Problemas do Nosso Tempo. Na exposição, cada secção foi atribuída a um artista.

A instalação Monumento aos Heróis Anónimos da Biblioteca Cosmos incidiu sobre a secção Biografias. Como alternativa ao valor do herói na sociedade e nas narrativas históricas, propôs-se uma perspectiva centrada na comunidade e criação colectiva da Biblioteca. Para a realização das peças foram utilizados materiais do espólio das Edições Cosmos: os caracteres em chumbo, as matrizes de zincogravuras utilizadas nas ilustrações e as fichas de assinantes. Estes objectos são os traços visíveis das entranhas de uma economia editorial, suportada pelo acesso aos meios, pela construção de uma comunidade de leitores e pela promoção de um diálogo de proximidade entre todos os envolvidos.

Ao negar a hegemonia da narrativa dos heróis, impunha-se desenhar um monumento instável, uma cenografia composta por estruturas simples e elementares: tábuas, varões e outros indícios. Com isto, testaram-se protocolos de exibição disfuncional, mostrando objectos não-resolvidos, matérias em suspenso ou em estado de transição. Uma nova publicação gratuita e de elevada tiragem permitiu restaurar uma economia da partilha – o jornal Como Reclamar a Incompreensível Dificuldade de Comunicar com os Mortos.

Evitar o caminho da biografia não obriga necessariamente esquecer as forças individuais que possibilitaram a Cosmos, mas tão somente a imaginar essas forças individuais em cooperação. Dando continuidade a este movimento, para a materialização das peças, contou-se com a cumplicidade dos trabalhadores das oficinas municipais e do Museu do Neo-Realismo.

Instalação e jornal, Museu do Neo-Realismo, 27/06/2020-28/02/2021. No âmbito da exposição Cosmo-Política #6, com os artistas: Elisa Pône, Filipe Pinto, Francisco Pinheiro, João Fonte Santa, Marta Leite, Nuno Barroso e curadoria de Sandra Vieira Jürgens e Paula Loura Baptista.

5 peças em madeira, lacadas e pintadas (dimensões variáveis); fac-símile de ficha de subscritor/leitor (11 x 16 cm); bandeira (70 x 45 cm); zincogravuras da Biblioteca Cosmos (dimensões variáveis); tipos de chumbo das Edições Cosmos (3,9 x 5,3 cm); jornal 16pp. 2000 exemplares (37 x 28 cm).
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(abrir aspas) Visita Guiada (fechar aspas) ou a Incoerência do Artista


(abrir aspas) Visita Guiada (fechar aspas) é uma deambulação em sete actos pela exposição A oficina de pintura encarregar-se-á das partes pintadas do cenário, que no âmbito dos 125 anos do São Luiz reuniu objectos, documentação e material gráfico relativo a colaborações de artistas plásticos com companhias e espectáculos que estiveram em cena no teatro municipal.
Organizada como uma visita-guiada e sustentada pelos códigos de um espectáculo teatral, a performance apresenta-nos Aspas (André e. Teodósio) e Ponto (Patrícia da Silva) que através de uma voz-off (rumores dizem-nos que se trata da curadora da exposição Susana Pomba) percorrem o espaço da exposição com a audiência.


Do guião de (abrir aspas) Visita Guiada (fechar aspas):

• (ponto)     «» (aspas)   
Antes de começar esta ‘visita’, não queria deixar de vos colocar algumas questões. Por que é que vamos a visitas guiadas? Para sair da rotina ou entrar na vida dos outros? É medo de ficarmos sozinhos perante uma obra? É vontade de formar mais uma tribo temporária? É mais ou menos como no teatro? Para nos transformarmos em espectadores? Em caríssimos ouvintes? E quando olham para uma coisa conseguem só ver essa coisa? Precisam de alguém que vos confirme que o que estão a ver é mesmo o que estão a ver? De uma explicação coerente, que vos faça acreditar? De uma explicação que explique as forças que governam outras forças que por sua vez governam outras que finalmente nos levam às formas? A estas formas? (aponta para alguns dos objectos presentes na exposição, aqueles que lhe estão mais próximos)
(...) Uma história está sempre entre factos e propaganda. Esta não é excepção. Vamos revelar as fraquezas dos heróis canónicos vs. as proezas dos anónimos. Lembrar que a História é apenas conhecimento acumulado, por vezes muito mal arrumado, muito mal limpo, a cheirar a arsénico, bolor, naftalina, humidade, como quem varre tudo para debaixo do tapete. Vamos desfazer obras de arte totais. Descobrir trilhos de cumplicidades. Olhar ‘olhos nos olhos’ para o absurdo.

Performance, Galeria Quadrum, 14/09/2019, 17h. Com André e. Teodósio, Patrícia da Silva e Susana Pomba.

No âmbito da exposição A oficina de pintura encarregar-se-á das partes pintadas do cenário (curadoria de Susana Pomba).

© fotografias: Cristiana Morais, José Frade.
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O Graffiti de Rimbaud, e assim sucessivamente


A) Esta gente veio aqui hoje com uma ideia fixa, um tra-lá-lá na cabeça: “here we are now, entertain us”.
B) OK. Mas... xadrez? Eu não sei jogar xadrez. E o xadrez não entretém muito mais que os seus dois jogadores. Porque é que não fazemos antes um espectáculo de variedades. Literalmente, de variedades. Um exercício de visão periférica ou de estrabismo retórico. Partindo do princípio que assim que começamos a saber alguma coisa, devemos desistir imediatamente, sob pena de transformar um delicioso manjar no tema insosso de um pós-doc. Façamos antes uma ode à miopia intelectual e às ideias desfocadas.
A) Um concurso de name-dropping, de bizarrices ou de curiosidades? É isso que propões?
B) Isso mesmo. Porque não? Nem sempre teremos consciência da direcção que as coisas podem vir a tomar, muitas vezes entraremos em ângulos de distorção insuportável dos factos, noutras em zonas de contacto íntimo com personagens, momentos ou eventos.
A) Quer isto dizer que para os felizes detentores de um smartphone, tudo o que aqui se disser pode ir sendo googlado...
B) ... à medida que os vamos “entretendo”.

Leitura dramatizada, Rua das Gaivotas 6, 22/10/2016, 22h. No âmbito do projecto curatorial Old School de Susana Pomba. Com a participação de Crista Alfaiate e Paula Sá Nogueira.Ler guião



Círculo das Leitoras Peripatéticas: percurso para os Jardins do Palácio de Cristal



As árvores, as raízes, as flores, as conchas, as estátuas, as fontes, as caminhadas, as silenciadas, a relva, a erva daninha, o pavão, o jardim, a natureza, a experiência, a mudança, a justiça, a renovação. O Círculo das Leitoras Peripatéticas propôs uma leitura animada por palavras, imagens, música, sons, e outros aditivos, que ganharam raízes na Concha Acústica, mas levaram-nos pelo jardim por meio de três narrativas, três percursos distintos, que acabaram por se encontrar e cruzar caminho. O elo comum: deitar abaixo as musas-estátua sem voz, remexendo o fundo do lago, e revelando as histórias de mulheres criadoras, literatas, botânicas, artistas, cantoras. No final, o baile foi no fundo do mar à roda da concha.

O Círculo das Leitoras Peripatéticas é um projecto de Sofia Gonçalves, Susana Gaudêncio e Susana Pomba, para a reactivação de bibliotecas públicas ou privadas.

Conferência-performance e publicação. No âmbito do programa ping! — Programa de Incursão à Galeria: Gineceu & Estigma/Ecopensamento (Galerias Municipais do Porto). Jardins do Palácio de Cristal: 10.06.2021. Com Susana Gaudêncio e Susana Pomba. Fotografias por: Renato Cruz Santos, Joana Pinheiro e Mafalda Santos.







Dois Dias edições


A DOIS DIAS edições tem por interesses as tangentes entre arte e literatura. Sediada em Lisboa, desenvolve, desde 2011, os seus próprios modelos de edição. Pensa o livro como valor acrescentado ao “texto” — do x/y da página ao x/y/z do livro. Nasce da resiliência de dois leitores-editores – Rui de Almeida Paiva e Sofia Gonçalves — que, em diálogo com outros leitores-escritores-autores, investem na exploração das dinâmicas editoriais nas suas múltiplas dimensões.

Publicações: Câmara de Descompressão (Mattia Denisse, 2011), Época de Estranheza em Frente ao Mundo (Susana Gaudêncio, 2012), Para já para já (Vitor Silva Tavares, 2012), Quem viaja encontra os segredos antigos mas perde os sapatos novos (rui de almeida paiva, 2014), Efeito Kuleshov(Joana Bértholo, rui de almeida paiva e Sofia Gonçalves, 2014), Arroios. Diário de um diário (José Maria Vieira Mendes, 2015), Cardeal Pölätüo(Stefan Themerson, 2015), Fragmentos Narrativos (Paul Valéry, 2016), A Grande Bebedeira (René Daumal, 2017), Duplo Vê: o Tautólogo (Mattia Denisse, 2017), Estação Vernadsky (Soraya Vasconcelos, Susana Gaudêncio et al., 2018), O contra-céu (René Daumal, 2018), O Rapaz Perdido seguido de Sem Porta (Thomas Wolfe, 2019), K contra K: catálogo Incompleto das Edições Tripé (Mattia Denisse, 2019), Se o Mundo é Redondo, o Pensamento é ao Quadrado (rui de almeida paiva e Marta Moreira, 2019), Páginas Inquietas: sobre documentos insubmissos (Mário Moura, Susana Gaudêncio et al., 2019), Bakakai (Witold Gombrowicz, 2020) e 2 Cavalos de Turim(Joana Bértholo, rui de Almeida Paiva, 2020), Um fêmeo, 88 coisos de um minuto, Um disfarce magnífico (Rubén Sabbadini, 2021), A história de todos e de cada um (Gertrude Stein, 2022).

Projectos: residência “Repartição de Leitura” e projecto editorial Não estamos disponíveis para assistir ao encerramento desta livraria sobre a Livraria e as Edições Sá da Costa (rui de almeida paiva e Sofia Gonçalves, 2013), o jornal Apneia (André Ruivo, rui de almeida paiva, Sofia Gonçalves, 2014), a instalação e publicação “Quase sempre em frente, quase nunca um verso”, presentes na exposição Your body is my body (colecção de Cartazes de Ernesto de Sousa no Museu Berardo, 2016), Medley: uma hipótese de catálogo (rui de almeida paiva e Sofia Gonçalves, 2017), o workshop Unidade de medida: o minuto. Oficina de observação, composição, escrita (Rui Almeida Paiva e Sofia Gonçalves, 2020), no âmbito do programa maat-mode.
Edição, design, direcção artística (2011-). Com Rui de Almeida Paiva e todos os nossos autores/cúmplices.


Design «Arroios» e «Estação Vernadsky»: Ana Teresa Ascensão/ATA design. Design «Se o Mundo é Redondo o Pensamento é ao Quadrado»: Rui Silva/Alfaiataria