Chegados aqui, e depois de cada um ter seguido o seu caminho para aqui chegar, alguma coisa nos fez parar e aqui ficar, no mesmo espaço, por um curto período de tempo – bem-vindos! É tempo para perceber o que é, afinal, isto, tudo isto: diferentes imagens do passado adquirem uma ordem e são expostas num determinado contentor*, para que eventualmente alguém reconheça o que se esteve a fazer com o tempo que temos. Fez-se um esforço para categorizar o que se faz em três palavras: «projectos», «ensino» e «escrita», como se muitas das coisas que habitam estas palavras não pudessem habitar outras e assim sucessivamente. 

Tentar dar, agora que aqui estamos, um corpo a tudo isto.
Alguém utiliza os processos e linguagens do design de comunicação como ferramentas de investigação de universos muito díspares. Para isso, utiliza estratégias de compromisso (mais ou menos viciadas, mais ou menos oportunistas) com forças e agentes culturais ou com estruturas de poder ou autoridade: a escola, o museu, a galeria, a edição, o curador, o professor, etc. etc. etc.. Desenvolve modelos mais ou menos comuns, mais ou menos subterrâneos, de construção e disseminação do conhecimento (útil e inútil). Explora hipóteses que permitam equilibrar a prática com a necessária reflexão em torno do que se faz e de como se faz, fugindo sempre que se pode às velhas lógicas da catalogação (isto explica este parêntese e o fascínio por toda uma legião de polímatas). A partir de temas mais ou menos recorrentes (a educação, a educação em design; as pontes e tangentes entre arte, design e literatura, design e ficção; o design como resposta possível e entre muitas outras possíveis aos assuntos do dia), produzem-se discursos que depois encontram a forma que lhes for conveniente. 

Sofia Gonçalves é licenciada em Design de Comunicação/FBAUL, mestre em Ciências da Comunicação/FCSH-UNL, doutora em Belas-Artes/FBAUL. Docente de design de comunicação na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Fundou, com Rui de Almeida Paiva, a editora DOIS DIAS.


* A única nota de rodapé deste texto serve para recomendar a leitura do texto «The Carrier Bag Theory of Fiction», escrito em 1986 por a Ursula K. Le Guin, que nos mostra que não devemos desprezar os contentores: objecto-chave para toda uma outra escrita da História da Humanidade e, por consequência, das estórias e ficções que criamos.
«Só me interessa o que não é meu.»
Oswald de Andrade, «Manifesto Antropófago»,
Revista de Antropofagia, Ano 1, N.º 1, Maio de 1928.


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