SO’PA:
Enciclopédia de incoincidências, farsas, truques e mistificações
SO’PA:
Enciclopédia de incoincidências, farsas, truques e mistificações parte de um conjunto de fichas de arquivo que o artista Mattia Denisse compõe, instigado pelas (in)coincidências entre imagens com origem
no caldo digital online e no seu processo artístico.
Enquanto editora da Dois Dias, casa editorial que editou três livros de Mattia Denisse – Câmara de Descompressão (2011), Duplo Vê: o Tautólogo(2017), K contra K: catálogo incompleto das edições Tripé (2019) –, julgava estar na posse de algumas faculdades particulares que me permitiriam descodificar parte de SO’PA – o misterioso sistema de referenciação e catalogação da cosmogonia do artista. Podia então, à traição, oferecer ao leitor aquilo que Mattia Denisse se furta astutamente a fazer – uma chave de descodificação da sua obra. Não poderia estar mais enganada. Quanto mais julgava estar na posse de algumas respostas, mais estas me escapavam.
Derrotada, frustrada, consciente do fracasso, decidi seguir um método tautológico com desvios para o absurdo. Incitada pelo conselho explícito do Documento 00001 – «Ensaiar a entrada de uma palavra descritiva no campo de pesquisa» –, observei as imagens e encontrei as palavras que melhor pareciam descrevê-las, palavras essas que, por sua vez, deram origem a entradas de uma pretensa enciclopédia. O método de método fica-se por aqui. Tudo o resto é caótico, inconsequente, errático, fractal, motivado por intuições e afinidades consentidas (e não consentidas) entre editora e artista.
A tarefa de converter imagens em palavras, embora recorrente, não é uma tarefa simples – esconde, na aparente certeza dos vocábulos, uma objectividade impossível. Contrariamente à lógica matricial de qualquer enciclopédia, a ordem em SO’PA é desalfabética para que o leitor reconheça desde logo a falta de um trilho.
Andaremos, portanto, às voltas ou, se sofrermos de tonturas, para a frente e para trás. Neste reconhecimento ou jogo de palavras e imagens, não se espere encontrar mais que um desporto sem regras que nos permitiu chegar a descrições ambíguas, traiçoeiras, absurdas, rebuscadas – ou, por outras palavras, farsas, truques e mistificações. Incapazes de abarcar a cosmogonia, ficámo-nos pelos tiques de linguagem de Mattia Denisse. Quando só restam os tiques ou nos escapam as elocuções principais, sobra uma irremediável e incontornável gaguez. Pede-se então ao leitor alguma paciência. Eventualmente, uma frase, uma ideia, irão chegar ao fim.
Enquanto editora da Dois Dias, casa editorial que editou três livros de Mattia Denisse – Câmara de Descompressão (2011), Duplo Vê: o Tautólogo(2017), K contra K: catálogo incompleto das edições Tripé (2019) –, julgava estar na posse de algumas faculdades particulares que me permitiriam descodificar parte de SO’PA – o misterioso sistema de referenciação e catalogação da cosmogonia do artista. Podia então, à traição, oferecer ao leitor aquilo que Mattia Denisse se furta astutamente a fazer – uma chave de descodificação da sua obra. Não poderia estar mais enganada. Quanto mais julgava estar na posse de algumas respostas, mais estas me escapavam.
Derrotada, frustrada, consciente do fracasso, decidi seguir um método tautológico com desvios para o absurdo. Incitada pelo conselho explícito do Documento 00001 – «Ensaiar a entrada de uma palavra descritiva no campo de pesquisa» –, observei as imagens e encontrei as palavras que melhor pareciam descrevê-las, palavras essas que, por sua vez, deram origem a entradas de uma pretensa enciclopédia. O método de método fica-se por aqui. Tudo o resto é caótico, inconsequente, errático, fractal, motivado por intuições e afinidades consentidas (e não consentidas) entre editora e artista.
A tarefa de converter imagens em palavras, embora recorrente, não é uma tarefa simples – esconde, na aparente certeza dos vocábulos, uma objectividade impossível. Contrariamente à lógica matricial de qualquer enciclopédia, a ordem em SO’PA é desalfabética para que o leitor reconheça desde logo a falta de um trilho.
Andaremos, portanto, às voltas ou, se sofrermos de tonturas, para a frente e para trás. Neste reconhecimento ou jogo de palavras e imagens, não se espere encontrar mais que um desporto sem regras que nos permitiu chegar a descrições ambíguas, traiçoeiras, absurdas, rebuscadas – ou, por outras palavras, farsas, truques e mistificações. Incapazes de abarcar a cosmogonia, ficámo-nos pelos tiques de linguagem de Mattia Denisse. Quando só restam os tiques ou nos escapam as elocuções principais, sobra uma irremediável e incontornável gaguez. Pede-se então ao leitor alguma paciência. Eventualmente, uma frase, uma ideia, irão chegar ao fim.
Ensaio. C/ Mattia Denisse.
No âmbito da exposição Theodore’s Dream de Mattia Denisse, West Den Haag, Haia, 22/02-09/08/2020.
Ler versão inglesa (versão publicada).
No âmbito da exposição Theodore’s Dream de Mattia Denisse, West Den Haag, Haia, 22/02-09/08/2020.
Ler versão inglesa (versão publicada).