Quase sempre em frente, quase nunca um verso



Na colecção de cartazes de Ernesto de Sousa, chama-nos à atenção um conjunto significativo de cartazes com frente e verso, excepções à anatomia elementar de um cartaz e ao seu esquema cultural e retórico. Se a frente do cartaz é quase sempre pública, o verso é quase sempre privado; se a frente é enfática, sintética, eficaz, o verso é um lugar inusitado, ignorado, poético, onírico, disfuncional; se a frente é um «rectângulo de apelo», o seu verso contém uma mensagem silenciosa.

No verso do cartaz da representação brasileira da Bienal de Veneza de 1982, do artista Tunga, encontrámos a expressão “DIREITO AO REVERSO”, que serviu de ignição a três conversas, que por sua vez deram origem a 18 novos cartazes. Apresentados na sala onde se encontrava o cartaz original, estes novos cartazes registam e traduzem as conversas que tivemos com três cúmplices: António Brito Guterres, Joana Bagulho e Patrícia Portela. Uma simples dobra no conjunto de cartazes converteu esta instalação numa publicação.

Este é, então, um elogio breve ao verso de todas as coisas.

Instalação, publicação, Museu Coleção Berardo, 20/02/2016. Com Rui de Almeida Paiva.

No âmbito do ciclo Veículo de Intimidade — hoje, organizado por Luísa Metello Seixas e Inês Castaño, e integrado na exposição Your body is my body. Coleção de Cartazes de Ernesto de Sousa (curadoria: Isabel Alves). O ciclo reuniu um conjunto de ações performativas a partir do ensaio da autoria de Ernesto de Sousa, “Artes Gráficas, Veículo de Intimidade”. Com Dois Dias Edições, Gustavo Ciríaco, Hugo Canoilas, Liliana Coutinho, O Homem do Saco, Patrícia Portela, Paulo Mendes, Rui Catalão e Susana Gaudêncio.

18 cartazes, serigrafia e jacto de tinta, frente e verso. Publicação, serigrafia e jacto de tinta, 72 pp.