‘Ponto Final Parágrafo’ – Anatomia de uma frase.



Dos cerca de 32 milhões que compõem a população marroquina, três quartos são descendentes de berberes – um dos povos mais antigos do continente africano; cerca de um terço da população comunica através da língua berbere. Em Marrocos ensina-se berbere na escola oficial há cerca de quatro anos. Como principal argumento para esta omissão cultural, o poder político vigente declarava que não se podia ensinar uma língua que não tinha gramática. Mohamed, um berbere que sempre viveu na pequena localidade de Aït-Benhaddou, às portas do deserto do Saara, é um homem aberto ao mundo que o rodeia. É ele quem nos explica que o berbere rege-se por um alfabeto que descende do grego. Como «ponto final» deste alfabeto, a letra «Z» corresponde a «ⵣ» e representa o Homem livre ou a liberdade. Diz-nos com orgulho que, finalmente, a sua filha mais velha vai poder aprender a escrever «liberdade» na língua com que proferiu as suas primeiras palavras. O ensino é, aqui, como em qualquer lugar no mundo, um exercício de poder.

Podemos olhar para este facto simplesmente como uma parábola. Proponho olhá-lo como um exercício: como comparar a importância do ensino de uma língua nos curricula oficiais nacionais, com o ensino das linguagens autónomas de uma disciplina em contexto universitário? Decorridos 40 anos sobre a introdução do curso de Design de Comunicação no sistema de ensino superior, é de supor que existe um discurso próprio da disciplina. Contudo, uma dúvida persiste: continuaremos a adaptar os códigos de campos de conhecimento adjacentes, ou ensinamos, no presente, o «alfabeto» e «gramática» exclusivas do design de comunicação?

Texto. Publicado em Ponto Final Parágrafo: elogio crítico à Universidade pelos alunos finalistas de Design de Comunicação, pp. 24-30, Faculdade de Belas-Artes da ULisboa, 2014. Ler