Motor de dois tempos: uma crónica da edição através da observação de três espécimes.


O Motor de dois tempos é um motor simples de combustão interna. No primeiro tempo, uma mistura de combustível e ar é aspirada para o interior de uma primeira câmara do motor; a mistura é depois empurrada para uma câmara de compressão. Um pistão em movimento ascendente, comprime a mistura. Uma vela produz uma faísca: a mistura comprimida inflama e cria uma explosão. A pressão empurra o pistão para baixo com força. A força da explosão é tão forte que abre as entradas do motor para aspirar de novo a mistura, repetindo o ciclo. Diferente do motor de quatro tempos, que é mais sofisticado, as etapas de funcionamento não ocorrem de forma bem demarcada, havendo admissão e exaustão de gases simultaneamente. São utilizados nos famosos automóveis produzidos na ex-RDA, os Trabant, mas também nas Scooters. Ou seja, é o motor dos veículos cool. Ou, se preferimos, dos resistentes, intemporais.

O motor desta apresentação alimenta-se, também em modo de admissão simultânea, das relações entre edição e design, para daqui identificar um conjunto de alterações à prática do Design de Comunicação. Os projectos apresentados também ocorrem em dois tempos, porque:
— tal como o motor descrito, as combustões que daqui resultam – vulgo publicações – são fruto de processos que negam a mais elementar divisão de tarefas dos processos editoriais;
— os seus resultados provêm de dois tipos de batimento cardíaco: um veloz e/ou efémero, outro fruto de uma produção lenta.

Proponho a observação de algumas propriedades – ou por outras palavras, possibilidades –, através da descrição de três projectos desenvolvidos desde 2011: O Graffiti de Rimbaud, o Círculo de Leitoras Peripatéticas e a casa editorial Dois Dias edições.

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Conferência. No âmbito do evento Comunicar design’19, ESAD/Caldas da Rainha, 30/05/2019.

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