Forever Young? E outras cinco questões sem aparente ligação com a primeira.



Um prenúncio do fim da época de ouro da ideia juventude pode ser o facto de esta, hoje, ser interminável. A extensão do período de juventude extingue ou neutraliza o seu poder – o de se saber que a juventude não dura para sempre. Aumentar o tempo em que se é jovem retira urgência ao que é ser-se jovem (afinal temos cerca de duas décadas para o ser… para quê sê-lo agora!).

(...) Não sendo condição sine qua non, é mais simples manter um organismo jovem quando as suas componentes são efectivamente jovens. Entrei para o corpo docente desta Faculdade [Belas-Artes da ULisboa] com 26 anos, depois de ter passado por uma experiência prévia de três anos de ensino numa outra instituição de ensino superior. À época, esta condição não revelava nada em especial – era antes um procedimento comum de renovação desejável do corpo docente. Hoje, fruto de sucessivos e expressivos cortes no financiamento do Ensino Superior, bem como a impossibilidade de novas contratações, as Universidades encontram sérias dificuldades na manutenção dos índices de docentes mais jovens – por outras palavras, a Universidade enfrenta sérias dificuldades em manter-se jovem.
Este envelhecimento precoce do corpo docente, se é sintomático de uma Universidade envelhecida, é ainda mais problemático em Design de Comunicação. Disciplina «jovem» (comemorámos recentemente os 40 anos dos primeiros cursos de Design de Comunicação, os da ESBAL) exige dos seus agentes uma constante reformulação de discursos e práticas, alicerçados por competências tecnológicas em constante mudança. Não são raros os casos de ex-alunos que poderiam hoje engrossar, desejavelmente, o corpo docente desta e de outras Faculdades. Mas tal como revelam os índices populacionais de Portugal, a Universidade é hoje um país envelhecido e mais vale tentar a sorte lá fora.

(...) o poder, hoje, consiste também na produção da subjectividade. As reivindicações estão para além do que pode ficar inscrito numa lei (...). O design está particularmente habilitado para construir algo a partir destas camadas subjectivas, trazendo-as à superfície através de artefactos de comunicação. Pensar os modelos de comunicação de uma nova política, cidadã e não partidária, que não se dirija a nichos ou grupos determinados (sociológicos ou ideológicos) – a «política do qualquer» (ou dos 99%) como Rancière descreve –, interpela qualquer designer a tornar-se um «sujeito qualquer» criado pela própria acção política.

Texto. Publicado em Agora, Irrepetível. A juventude, o design e a sua prática, pp. 28-41, Faculdade de Belas-Artes da ULisboa, 2015.

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