Elogio à hard-drive: edição com objectos vagamente esquecidos

90% dos dados existentes foram gerados nos últimos cinco anos. A nossa capacidade de armazenamento aumenta prodigiosamente, mas a esta não corresponde uma idêntica capacidade de processamento. Cada hard-drive é um vestígio da superabundância de informação à escala individual, espaço para onde convergem produção pessoal (imagens, textos, vídeos, etc.) e produção global (downloads, conteúdos de origem especificada ou anónima). Guardamos algo no nosso computador (através do comando “salvar”), porque a queremos preservar. Mas será que é isso que efetivamente acontece a uma grande maioria dos dados que gravamos nas nossas hard-drives? Não estarão a maioria dos nossos ficheiros num limbo existencial — entre o apagar definitivo (“lixo”) ou a perda eminente pela obsolescência de computadores, sistemas operativos ou suportes de armazenamento de dados?

Em Elogio à hard-drive, a edição é a garantia de salvaguarda ou resgate da memória, perante a superabundância de conteúdos. As narrativas gráficas geradas a partir da recuperação de conteúdos previamente armazenados correspondem a uma mudança de estado: de conteúdo esquecido, inamovível, parado, congelado, para um conteúdo que é tornado público, que circula. O processo de edição não se baseou nos processos de indexação (mecanismo comum do arquivo), mas a partir de trilhos associativos: um processo que permite a seleção, organização, representação e distribuição do que admitimos ter valor perante tudo o que já existe.