A Collision between a Stream
of Light and an obstacle.
o Design, entre a crise da realidade e a crise
da ficção.
Em 1929, o
cineasta russo Sergei Eisenstein escrevia «O Princípio Cinematográfico e o Ideograma»,
cujos argumentos teciam um quadro comparativo entre duas práticas distintas – a
arte pictórica japonesa e o cinema. Para Eisenstein, a montagem (podemos dizer
a criação) é sempre fruto de uma colisão. Só a colisão, da qual pode surgir um
conjunto variado e variável de combinações, permite a representação de algo
impossível de representar. É da colisão que surge o conceito. É ainda neste
texto que encontramos a expressão «a collison between a stream of light and an
obstacle», de que nos apropriámos para dar título à 10.ª Mostra de Alunos
Finalistas da Licenciatura em Design de Comunicação da Faculdade de Belas-Artes
da Universidade de Lisboa.
Seguindo a proposta de Eisenstein, no ano lectivo de 2019/20, ensaiámos colocar a prática do design de comunicação em colisão com outras duas práticas: o jornalismo (durante o 1.º semestre), o cinema (no 2.º semestre). A este princípio adicionámos duas hipóteses: poderá à crise do jornalismo corresponder a crise da realidade? E à crise da ficção, a crise do cinema?
Entretanto, e em pleno segundo semestre, um único vocábulo – uma espécie de nome de código sem hipóteses prévias, de seu nome COVID-19 –, associado a um poderoso conjunto de dados quantitativos e estatísticas diárias, controlaram as nossas acções e os modos de governação do mundo. Que sentido faria continuar a falar de ficção e de cinema, quando a realidade do nosso quotidiano se começava a assemelhar, de um modo estranhamente familiar, ao melhor e ao pior cinema de ficção científica, preenchido por um imaginário de distopia apocalíptica?
Perante este cenário sem precedentes, e durante o processo que norteou a presente Mostra, confrontámo-nos com uma inevitabilidade: a necessidade de relermos os resultados da produção académica de 2019/2020 à luz encandeante dos acontecimentos do presente – um exercício póstumo de edição, extremado pela radicalidade dos tempos que vivemos. Ao ritmo de um tempo único regido pela pandemia, os temas abordados no primeiro semestre—a condição pós-digital da realidade, o regime da pós-verdade, a conversão de factos mais ou menos relevantes a posts de feeds em redes sociais, a forçosa desestabilização das nossas democracias, os grandes dilemas e conflitos da actualidade, fake news e bubble-filters, a ditadura do tempo real, a vida substituída por lives—, paradoxalmente, ou se intensificavam ou se dissipavam. Se as metodologias projectuais, durante o segundo semestre, inflectiram para um cenário exclusivamente remoto e digital, decidimos que a pandemia não nos ocuparia como tema (talvez o passo mais óbvio para uma disciplina que teima em deixar rastos do seu presente); bem pelo contrário, insistimos teimosamente nos aspectos líricos da ficção, em continuar a ver filmes, a falar de filmes, a discutir os limites da nossa prática, talvez agora, mais do que nunca, as nossas bolhas ou espaços de segurança do real. Se a realidade (como a conhecemos) terminou, resta ao design ocupar a ficção.
Seguindo a proposta de Eisenstein, no ano lectivo de 2019/20, ensaiámos colocar a prática do design de comunicação em colisão com outras duas práticas: o jornalismo (durante o 1.º semestre), o cinema (no 2.º semestre). A este princípio adicionámos duas hipóteses: poderá à crise do jornalismo corresponder a crise da realidade? E à crise da ficção, a crise do cinema?
Entretanto, e em pleno segundo semestre, um único vocábulo – uma espécie de nome de código sem hipóteses prévias, de seu nome COVID-19 –, associado a um poderoso conjunto de dados quantitativos e estatísticas diárias, controlaram as nossas acções e os modos de governação do mundo. Que sentido faria continuar a falar de ficção e de cinema, quando a realidade do nosso quotidiano se começava a assemelhar, de um modo estranhamente familiar, ao melhor e ao pior cinema de ficção científica, preenchido por um imaginário de distopia apocalíptica?
Perante este cenário sem precedentes, e durante o processo que norteou a presente Mostra, confrontámo-nos com uma inevitabilidade: a necessidade de relermos os resultados da produção académica de 2019/2020 à luz encandeante dos acontecimentos do presente – um exercício póstumo de edição, extremado pela radicalidade dos tempos que vivemos. Ao ritmo de um tempo único regido pela pandemia, os temas abordados no primeiro semestre—a condição pós-digital da realidade, o regime da pós-verdade, a conversão de factos mais ou menos relevantes a posts de feeds em redes sociais, a forçosa desestabilização das nossas democracias, os grandes dilemas e conflitos da actualidade, fake news e bubble-filters, a ditadura do tempo real, a vida substituída por lives—, paradoxalmente, ou se intensificavam ou se dissipavam. Se as metodologias projectuais, durante o segundo semestre, inflectiram para um cenário exclusivamente remoto e digital, decidimos que a pandemia não nos ocuparia como tema (talvez o passo mais óbvio para uma disciplina que teima em deixar rastos do seu presente); bem pelo contrário, insistimos teimosamente nos aspectos líricos da ficção, em continuar a ver filmes, a falar de filmes, a discutir os limites da nossa prática, talvez agora, mais do que nunca, as nossas bolhas ou espaços de segurança do real. Se a realidade (como a conhecemos) terminou, resta ao design ocupar a ficção.
Coordenação do
projecto, curadoria e edição de publicação e website (2020). C/ António
Nicolas.
No âmbito da Mostra de alunos finalistas da licenciatura em Design de Comunicação 2019/20, Faculdade de Belas-Artes da ULisboa.
Projecto de comunicação, publicação e website, desenvolvido pelos alunos: Ana Margarida Cardoso, André Mota, Carolina Aguiar, Carlos Trabulo, Inês Gonçalves, João Delgado, Margarida Coelho, Maria Antunes, Rita Duarte Pereira. Imagem menu e 1.ª imagem página: colectivo A collision...
Website
Intagram
No âmbito da Mostra de alunos finalistas da licenciatura em Design de Comunicação 2019/20, Faculdade de Belas-Artes da ULisboa.
Projecto de comunicação, publicação e website, desenvolvido pelos alunos: Ana Margarida Cardoso, André Mota, Carolina Aguiar, Carlos Trabulo, Inês Gonçalves, João Delgado, Margarida Coelho, Maria Antunes, Rita Duarte Pereira. Imagem menu e 1.ª imagem página: colectivo A collision...
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Publicação e jornal — design por: Ana Margarida Cardoso, Inês Gonçalves, Margarida Coelho, Rita Duarte Pereira.